quinta-feira, 5 de maio de 2011

Planeta Eu

- Quando percebi, estavam todas amarelas.
- A primavera chegou sem eu ter dado conta que o solo já tinha sido rasgado. De longe não dá para notar. Mas, de perto, elas aparecem demais. Tudo que é visto de muito perto, perde seu encanto e mistério. As espinhas amarelas cobrem minha cara e é uma pena que não posso chamá-las de flores.
- Parei de chorar na frente dos outros na mesma época que comecei a chorar sozinha no meu quarto. Sinto o gosto salgado das lágrimas toda vez que elas chegam na minha boca, mas não sei dizer se é bom ou ruim. Talvez eu preferisse o gosto do Danoninho de morango congelado que eu insistia em chamar de sorvete quando era criança. Mas isso já faz tempo.
- O chaveiro rosa escrito "Identities" arrebentou-se do zíper da minha mochila e achei que foi um recado para mim. Lembrei de uma frase que li em um livro de Clarice Lispector : " Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma para sempre." Chego à conclusão de que crescer é se conhecer cada vez menos.
- Hoje o MSN apita, indicando que você entrou e espero feito idiota você me dar "oi". É claro que você não diz nada. Eu digito " e aí ? " e só fico imaginando você fechando a janela e me ignorando, antes de seu status mudar para "away". Gostaria de poder culpar as espinhas por isso, mas você nem sabe que elas estão aqui.
- Ainda insisto em ler livros e ver filmes que me fazem pensar. Talvez eu seja a única da minha idade que gosta de fazer isso. Ou talvez eu seja mesmo de um planeta diferente, esperando para ser resgatada e então encontrar aqueles que se parecem comigo.

( Flavianna Ribeiro )

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